Uma vida Uma história Uma lenda – JULIO IGLESIAS

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Julio Iglesias revelou o segredo da sua juventude à Radio 10, Argentina
23 de Setembro de 2008
Por: Óscar González Oro, Radio10
No dia do seu 65º aniversário, o famoso cantor conversou com Oscar González Oro na Radio 10 (Buenos Aires, Argentina) e assegurou que jamais se reformará.
Julio Iglesias faz hoje 65 anos e celebrá-los-á com a esposa Miranda, com os filhos e com o neto, na sua casa em Miami.
O cantor, que em Outubro actuará no Estádio Luna Park, foi entrevistado no „El Oro y el Moro”, na Radio 10, onde afirmou que o segredo para se sentir jovem e seguir sempre em frente é ter paixão por aquilo que se quer. „Se não tivermos paixão por algo, para fazer algo, acabamos por ficar placidamente em casa, para sempre, e aquele que fica em casa, morre antes”, afirmou.
O artista espanhol acrescentou que não pensa no retiro e que jamais se reformará. „Nesta altura da minha vida tenho, mais que nunca, a cabeça e o coração na música. Os cantores retiram-se quando morrem ou quando morrem para as pessoas, que é o pior de tudo, pois morrer fisicamente não significa nada, contudo morrer para as pessoas é grave. Eu estou vivo e oxalá siga vivo para as pessoas por muitos anos mais”, afirmou.
Julio Iglesias iniciou este ano a sua tournée pela África do Sul com fim na Nova Zelândia, mas antes disso estará na Argentina nos próximos dias 17 e 18 de Outubro, para festejar os seus 40 anos de carreira artística. „A Argentina é um país que conheço desde 1969 e penso que vou continuar a cantar para os filhos e para os netos (dos seus fãs). Estou feliz porque vou cantar num lugar mítico (o Luna Park), vou estar com as pessoas outra vez, vou percorrer Buenos Aires, vou a Córdoba… Gostaria de estar um mês na Argentina e cantar durante um mês inteiro”.
O cantor salientou que o mais importante não é a idade que tem, mas sim como se sente com ela. „Faço 65 anos, mas se os puser ao contrário são 56 e se não os contar, podem ser 30. O mais importante é conservar a paixão”, concluiu.
O meu maior êxito é continuar vivo”
25 de Julho de 2010
Por: Pedro Luis Gómez, Diario Sur
Está no cume, é o cantor vivo com mais discos vendidos na história da música, é considerado o melhor cantor latino de todos os tempos e é um ídolo mundial. É Julio Iglesias. Aos seus 66 anos está como sempre, isto é, na crista da onda, cheio de ilusões e amando o seu país e a sua gente acima de tudo. Recentemente, o ‘The New York Times’ terminava uma entrevista com José Luis Rodríguez Zapatero com uma frase única: ‘Espanha, que até há muito pouco tempo só era conhecida no mundo por ser o país natal de Julio Iglesias…’. A frase pode parecer exagerada, mas em si vale um império. Depois de ter percorrido 4 continentes, só ao longo deste ano, Julio inaugura a sua tournée europeia com um concerto em Málaga, no dia 28 de Julho, na Plaza de Toros de La Malagueta, às 22:00h.
A entrevista decorre na sua casa da Costa del Sol. Está calor e Julio aparece moreno, em excelente forma física, jovial e vestido todo de branco, com uma camisa de linho e calças a condizer. A superação é uma norma na sua vida, que é ordenada e estóica.
-Quarenta e dois anos… Diz-se muito rápido, mas é uma vida inteira. Que resta daquele Julio Iglesias de Julho de 1968, de Benidorm?
-A paixão de viver e de cantar e a força para subir ao palco.
-Onde é que viu o jogo da final contra a Holanda?
-Nos Estados Unidos. O nome de Espanha colocou-se no topo do desporto universal. Fiquei emocionado e cheio de orgulho por vê-lo na Televisão Espanhola. Com uma equipa como esta, Nadal, Pau Gasol, Fernando Alonso, Alberto Contador e outros nomes ilustres, o nosso país coloca-se na vanguarda dos grandes desportistas.
-E a imagem do Del Bosque?
-É um treinador extraordinário e um cavalheiro. Sabe manter a calma, antecipar o movimento do adversário com tempo suficiente para o neutralizar, motivar os jogadores, transmitir-lhes confiança nos momentos-chave do jogo. O futebol espanhol deve-lhe muito.
-Voltemos ao artista. Que diferenças há entre aquele jovem cantor que actuou pela primeira vez em Benidorm e o Julio Iglesias universal de hoje?
-A diferença é que já passaram 42 anos desse festival de Benidorm, mesmo que para mim seja como se fosse ontem. É incrível quão depressa o tempo passa… Estou muito grato à vida e ao meu público por estas quatro décadas de carreira. Aprendi e desfrutei muito, tive e tenho o privilégio de percorrer o mundo e, sobretudo, de conhecer pessoas maravilhosas que me enriqueceram não só como artista, mas também como pessoa.
-Aos 66 anos, ainda com uma longa carreira pela frente?
-Toda a que o público quiser – que é quem decide quando um artista se deve retirar. Actualmente tenho a sorte de seguir adiante e de contar com o afecto das pessoas. É um privilégio que a vida me deu – ver três gerações assistirem aos meus concertos.
260 milhões de discos vendidos, de 30 em 30 segundos um tema seu toca numa emissora de rádio do mundo, enche concertos a 1.600 euros o bilhete, disputam por si em Las Vegas e Nova Iorque, é chamado desde Montecarlo ou Moscovo, países árabes…
-Como vê a música espanhola actual?
-Alegra-me ver que há muitos jovens talentosos, que com esforço, qualidade e disciplina podem chegar muito longe.
-O seu disco preferido?
-Não posso falar só de um disco. Tenho muitos discos preferidos, desde Nat King Cole até Sinatra, passando pelos grandes do blues.
-O Julio deixa poucas pontas soltas na vida… Dá-me a impressão que não improvisa muito.
-Gosto muito de disciplina e de trabalho. Não gosto de improvisar e, de forma alguma, fazer as coisas a curto prazo.
-E que seria do Julio Iglesias se não tivesse ido para os Estados Unidos?
-As circunstâncias andam muitas vezes nas vidas das pessoas. Eu não sei o que teria acontecido na minha vida, com tantas circunstâncias.
-Todos os anos passa um longo período na sua casa de Marbella. Sente necessidade de vir a Espanha para se reencontrar com as suas raízes?
-As raízes nunca se perdem, estejamos onde estivermos. Eu sou espanhol, tenho muito orgulhoso em sê-lo e, evidentemente, adoro estar no meu país e mostrar esta terra aos meus filhos mais novos. Há já algum tempo que passamos longos períodos em Espanha.
-O Julio conhece muitos círculos, todos diferentes e de distinção, o que se pensa de Espanha pelo mundo fora?
-Espanha é um país respeitado e que suscita um interesse altíssimo nos estrangeiros pelo seu atractivo cultural e turístico, pela sua gente generosa e acolhedora e, ultimamente, pelos grandes trunfos do mundo desportivo. A conjuntura económica neste momento não nos favorece, mas o nosso país, em situações adversas, sempre se fortaleceu. Espanha é um país forte e universal, que foi sempre um atractivo básico para os restantes países e a sua localização na história dá-lhe uma importância futura fundamental.
-O seu maior erro?
-Enganei-me em muitas coisas, como qualquer ser humano, porém o importante é aprender com os erros.
-O seu maior êxito?
-Continuar vivo e com mais vontade de viver que nunca.
-Não vive numa redoma? Possivelmente dourada, mas ao fim e ao cabo numa redoma… Digo isto porque o Julio sai pouco.
-O facto de não estar presente em festas ou actos sociais não significa que esteja a viver numa redoma. Eu estou diariamente em contacto com as pessoas, canto em diversos países e isto é um privilégio, porque vemos a vida através de perspectivas diferentes e entendemo-la melhor. Se actualmente não saio muito, é porque prefiro concentrar-me no meu trabalho, na tournée, no próximo disco que estou a preparar e em estar com a minha família.
-O que é que a Miranda significa na sua vida?
-A Miranda é a minha vida.
-Cinco filhos, um com apenas três anos, Guillermo, … Já parou ou ainda pensa em continuar?
-Ter cinco filhos, com 66 anos, é uma dádiva de Deus. A minha mulher e eu adoramo-los, são o melhor das nossas vidas. Para já não temos planos para aumentar a família, mas nunca se pode dizer „dessa água não beberei”…
-E dos outros três? É verdade que se dá mal com eles?
-Como é que me vou dar mal com os meus filhos? Quem pode pensar assim? Adoro-os e estou muito orgulhoso deles. Cada um conseguiu abrir o seu caminho, por mérito próprio. Além disso, são generosos e uns campeões na vida.
-Pai de oito filhos, avô, dois irmãos com menos de três anos… A sua família é o máximo.
-Muito obrigado. Sim, a vida deu-me uma família numerosa e unida.
-E o seu pai? Sente muito a falta dele?
-Muito, muito… Ninguém nem nada poderá jamais preencher o vazio que ele deixou.
-Julio, quais são as suas aspirações actuais?
-Continuar a aprender, ter saúde e disciplina.
-Que lhe falta conseguir?
-Ver os meus filhos crescerem, incutir-lhes os valores da vida e ensiná-los a voar alto, continuar a paixão pela música e agradecer à imensa gente que me ofereceu uma vida privilegiada.
-E a sua nova tournée mundial?
-A tournée deste ano é especial, pois já nos levou a quatro continentes, a países tão díspares como Austrália, Filipinas, Uruguai, Argentina, Malásia, EUA, Japão, Marrocos, Egipto e muitos mais… No dia 28 de Julho iniciaremos a tournée pela Europa com um concerto em Málaga, na Plaza de Toros de la Malagueta, seguido de dois concertos no Festival de Cap Roig, nos dias 5 e 6 de Agosto. São os meus três únicos concertos em Espanha.
-Isto de que já fez amor com milhares de mulheres… é verdade?
-Isso é a lenda. A lenda é muito mais atractiva que a realidade, mas o meu respeito pela mulher foi sempre autêntico. Com elas aprendi mais na vida do que com ninguém.
-Este ano entregam-lhe o título de Filho Adoptivo de Málaga e a Medalha de Ouro das Belas Artes. Que significados têm os prémios e galardões para si, que há alguns meses a esta parte tem inclusive um „Dia de Julio Iglesias” no estado do Nevada, nos Estados Unidos?
-Um prémio é o símbolo do carinho das pessoas e isso sempre nos honra.
-Sente que é invejado?
-Não. Sinto-me feliz.
Julio Iglesias ‘O senhor’ nos seus domínios
14 de Julho de 2011
Por: Diego León, Elenco, Colombia
Velhas capas de Long Plays de El amor e A mis 33 partilham um mural com as de outros artistas mundiais famosos no bar lounge de Punta Cana Yacht Resort, do qual se diz que Julio Iglesias é sócio e no qual estão hospedados o seu piloto, o produtor musical, os advogados ― com os quais gere os seus bens imóveis, e outros convidados. Com quase 68 anos (no próximo dia 23 de Setembro), Julio Iglesias não perde a agilidade de movimentos nem a galantaria.
Conhecido na ilha como ‘O senhor’, é o símbolo e o precursor da indústria da construção e do turismo que desde a sua chegada começou a crescer no paraíso tropical dominicano: „Eu queria comprar uma casa na La Romana (a uma hora e meia de Punta Cana e onde o Michael Jackson se casou com a Lisa Marie Presley em 94 e outros famosos como Marc Anthony ou Sharon Stone têm casas), mas o Óscar de la Renta disse-me que viéssemos para cá; reunimo-nos com o presidente de uma empresa local e tornámo-nos sócios. Nos últimos anos isto desenvolveu-se muito”.
Iglesias recebeu-nos em pulôver, depois de Sunshine, a bela assistente canadiana de cabelos loiros há oito anos ao seu serviço nos ter ido buscar ao resort pontualmente às 4:15 da tarde. Cinco minutos foram suficientes para chegarmos ao bairro de Coral 5 e para que a gigantesca porta se abrisse e aparecesse a mansão de jardines imensos e decoração balinesa.
Na entrada das cinco salas da casa de recepção de visitas apareceu Nathaly, a sexy bailarina panamense de pele cor de canela e movimentos delicados que acompanha o cantor nas suas viagens e se responsabiliza para que tudo funcione como um relógio. Espalhados estão os 15 empregados que cortam, limpam, regam e se ocupam de satisfazer todos os seus pedidos. „O senhor está no estúdio”, e instalámo-nos na sala da praia, perto da canastra com sapatos de praia de Miranda e das cinco crianças, os véus que ondulavam ao vento e uma vista impressionante de mar azul cristalino que beija as areias brancas. A poucos metros surge o solar de Óscar de la Renta, que nessa altura recebia outros jornalistas para o lançamento de um perfume.
„Vive a cinco minutos daqui, vem num carrinho de golfe e pela porta VIP sobe ao seu avião”, disse-nos uma das funcionárias do aeroporto onde Julio Iglesias tem o Jet E5 de 93 mil libras (42,184 Kg) de combustível e capacidade para 12 passageiros.
Conduziram-nos ao estúdio caseiro, equipado com a última tecnologia, para o nosso encontro inicial. Com cara de excitação, como um miúdo que mostra os brinquedos novos, o artista deu-nos a ouvir os velhos temas e permitiu-nos compará-los com as actuais versões de sons, a voz gravada outra vez, os instrumentos tocados novamente e com os quais quer surpreender os fãs incondicionais e conquistar as novas gerações: „Tenho mais de mil canções em Espanhol, peguei numas cento e vinte, desde La vida sigue igual até Me olvidé de vivir e estou a cantá-las outra vez. Como sei que não sou capaz de voltar a escrever temas como Abrázame ou Quijote, descobri este sistema que me permite voltar a cantar e melhor aquilo que fiz antes com uma voz e um som regulares. A minha voz ganhou com o passar do tempo”.
Alberto Sánchez, o técnico de som que está há ano e meio metido de corpo e alma no projecto juntamente com Iglesias, diz que se trata de pegar nas canções e de regravar no seu esqueleto os baixos, a bateria, as cordas, a voz, substituindo o antigo pelo novo sem perder a essência. Num carrinho de golfe conduzido pelo próprio Julio Iglesias, voltámos à sala com vistas ao mar e brisa fresca. „As mesas são muito importantes, pois são o momento da comunhão; nelas o amor ganha-se ou perde-se. Tive muitas „mesas” com os meus filhos; e como com os mais velhos (Julio José, Enrique e Chábeli) tinha pouco tempo, eram muito intensas, com conversas profundas”. Com os filhos mais novos passou mais tempo, desfrutou mais da companhia deles.
Há mais de dez anos que não se reunia com jornalistas, uma década sem que bisbilhotassem na sua vida e sem que ele aceitasse responder sem condições. Enquanto nos conta isto, passam Chipi e Misty, os gatos que partilham jogos na areia quente. „Vocês são os primeiros que cá vêm; depois, nestes dois meses vou receber uns 50 jornalistas de todo o mundo.” Claro, Julio não necessitava, vive dos concertos esporádicos, mas por puro prazer, pois os seus actuais rendimentos provêm dos „outros impérios” que tem vindo a construir.
Ao falar dos filhos que tem com Miranda, vai assinalando os lugares onde se sentam, como se estivessem presentes: Miguel Alejandro, de 13 anos; Rodrigo, de 12; as gémeas Cristina e Victoria, de 10, e Guillermo, de 4. „Estão em Miami, amanhã saberemos como nos encontraremos ― se vêm eles ou se vou eu.”
Outra casa em Miami, gerida há nove anos por Rosie e mais dez empregados e cujo animal de estimação é uma grande tartaruga e uma mansão em Espanha com cinco assistentes responsáveis por Charlie e Chaplin, os cães de Julio, completam as residências do cantor e compositor.
Há um ano e meio casou-se com Miranda, depois de 20 anos de noivado: „Não concebo a vida sem o olhar da Miranda.”
Ultimamente, das 24 horas do dia, passa mais de 15 no estúdio. Há já alguns anos que uns produtores da Broadway têm vindo a insistir na ideia de fazer um musical baseado na sua história, com as suas canções. Tem pensado no assunto, mas ainda não tomou nenhuma decisão: „porque é mais importante o futuro que agora estou a construir, o de fazer com que as pessoas ouçam as minhas canções outra vez. Aquilo que eu gostaria de obter com este disco era que os jovens de 20 e 30 anos dissessem: ˊAfinal tinhas razão, mãeˋ.”
É a primeira vez na história em que um artista decide regravar todos, absolutamente todos os seus grandes sucessos e a Sony, a discográfica, foi cúmplice. Há dois meses foi lançado na Colômbia o álbum „1”, o álbum teste com 12 dessas experiências ― em três semanas foram vendidas 100 mil cópias.
Isto deu-lhe ânimo, especialmente porque desde 1984 que não tinha uma presença forte no nosso mercado: ” Não quer dizer que me tivesse afastado da América Latina, simplesmente estava ocupado a descobrir outras culturas e a cantar noutras línguas.” Dentro de poucos dias lança a mesma experiência no Brasil, em Português; posteriormente, dia 15 de Setembro, percorrerá o mundo com um CD que contém 18 faixas em Espanhol e 10 em Inglês e no próximo ano, em Março, será o teste dos discos em Francês e em Italiano.
Eu posso falar bem de Platão ou Kant
10 de Agosto de 2012
Por: Darío Prieto, El Mundo
É feliz «com um vinho e um bocado de pão e também, como não, com caviar e champanhe». Cantou-lhe à vida, ao amor e às gentes de Espanha. Alternou com presidentes de EEUU e convidou a 400 desempregados para seu concerto de León. E eis temos : Julio
A primeira parte da conversa acontece num carrinho de golfe elétrico com o que o cantor de „Hey!” percorre sua propriedade na serra de Marbella. Há um palco montado à beira da piscina, onde falou via satélite com Finlândia, Indonésia, Filipinas, China e a Índia, como parte da promoção de sua compilação 1, no que volta a cantar seus grandes sucessos. Os mesmos que atacará no domingo a poucos quilômetros de aqui, no concerto final de seu gira espanhola.
Julio, muito obrigado por me convidar para o seu …
De nada. Mas hey: O que é isso que ouvi ; você se casou com a minha música, magro?
Pois… a verdade é que tocaram três canções no casamento, sim.
E onde foi?
Em Villafranca del Bierzo, Leon.
Homem. Eu me lembro quando parávamos ali no verão indo para Cangas do Morrazo. Como passam os anos. E eu não tenho muito tempo, Darío.
Mas, Julio, que coisas diz…
Qual sua idade ?
33. Agora que você pergunta: onde você estava na minha idade?
[Risos] Ah, se eu te contasse…
Com mais de 300 milhões de discos vendidos, Julio Iglesias é o músico espanhol de maior sucesso internacional. Um ícone mundial de aventureiro a senhor. Brincando , a entrevistadora taiwanesa diz que seus filhos maiores são meio asiáticos por parte de mãe e que ao ver o semblante da garota se lembra deles.
Você parece triste.
Quando eu revi essas músicas, dei-me conta de que não seria capaz, em minha vida, de voltar a escrevê-las. Estão cheias de palavras que não sei voltaria juntar. E nada me agradaria mais do que meu país entendesse do que aprendi. Se te vais de tua vida sem que te digam que o fizeste bem onde nasceste, então fica um pouco triste, como de marginação. Isso de «Ninguém é profeta em sua terra» é horrível para Espanha.
Como foram seus começos?
No ano 1963, quando o que se cantava era «baby» e «boneca», escrevi A vida segue igual, que foi a primeira canção pop espanhola, sem lugar a dúvidas.
Você é um filósofo?
[Se ri jogando a cabeça para atrás. Depois se põe sério] Estava numa cama morrendo depois de um acidente de trânsito e fui capaz de dizer: «Sempre há por que viver». E depois isso se converteu num hino. Li muitíssimo quando estive enfermo e posso falar perfeitamente de Platão ou Kant, mas não estou muito interessado em pegar um livro para fazer uma canção.
Mas sua música sim que conta uma atitude ante a vida.
Minhas canções são todas pequenas histórias. Não me ponho muito retórico com o que escrevo porque nunca fui um intelectual. Eu sou um voyeur que, ao viver em tantos lugares, aprendi mais de olhar aos olhos das diferentes culturas.
Como se vê a crise nesta altura ?
Espanha é um país vivo que está pronto para uma nova explosão econômica. Eu, que não vivo em Espanha faz 35 anos, quando volto sigo assombrando-me: Temos estradas estupendas, aeroportos de sobra e um trem de alta velocidade. Um país mo-der-nis-si-mo.
Mas com problemas sérios
O que não é lógico é o desemprego, com 25% de desempregados. Mas a maior lástima de meu país é que, depois de 15 anos em que Espanha acolhia a pessoas do mundo inteiro, hoje se converteu num lugar onde garotos de 25 a 30 anos precisam sair. Gentes que custaram muito ao Estado espanhol e que se vão a uma idade na que se apaixonam, de uma pessoa ou de uma terra, e ficam ali para sempre. Seres humanos muito preparados que perdemos. É absurdo.
Culpa dos políticos?
Em geral, e com exceções, a classe política espanhola não teve a universalidade necessária. Não pisou outras terras e em vez de ser tecnócrata, foi populista. Espanha foi um país de curto prazo, menos nos grandes poetas e os grandes artistas.
Que faz você por seu país?
Para que todos saibam : eu pago meus impostos diretos em Espanha. Ainda que não sou residente aqui, 25% do que tributo em qualquer lugar do mundo, seja por concertos ou por direitos de autor, tributo-o em meu país.
A tão hispânica inveja?
Espanha é como é e não há como julgar essas paixões que se tem , nem tomar-se as coisas de forma pessoal. Como o taxista me falou mal, Paris é feio… Não. Quando saio , noto o carinho que deixamos. Os que menos querem aos espanhóis são os próprios espanhóis.
Como ex futebolista, como vê a seleção?
Dá-me muita alegria quando vejo jogar a Xavi Hernández com Xabi Alonso, Casinhas, Ramos, Piqué… E me digo: Como é possível que,, sabendo que juntos ganhamos tanto, não sigamos juntos? Espanha é um país multicultural, e está mais do que aceito, mas unidos somos bem mais válidos. Nunca entendi isso. E mais desde que vivo num país, que se chama justamente Estados Unidos e que se une de uma forma impressionante quando tem que se juntar.
A crise de culturas, que dizem.
Nós somos iguais. Somos judeus, árabes, celtas, fenícios… Mas o de dividir… Não, não e não. Isso é uma mentira. E em Espanha vamos ter problemas políticos nesse sentido. Por isso este esporte espanhol tão brilhante que temos agora deveria ser um exemplo do que tem que ser a economia e a vida social.
Julio Iglesias regressa aos palcos nacionais em julho
4 de Julho de 2013
Por: Catarina Carvalho, Diario de Notícias
«Estou viciado no palco. No palco não tenho idade.»
A mão direita sobre o peito, a esquerda aberta, no ar. Agarrando, em dança, um corpo imaginário. Julio Iglesias não consegue evitar o gesto quando canta. Foi a sua imagem nos palcos que calcorreou, pelo mundo, nos 45 anos de carreira. E é-o aqui, no pequeno estúdio da sua casa de Marbella, enquanto trauteia por cima da nova versão de Abrazame que toca nas colunas perfeitas. Neste estúdio, o cantor não tem mais público que duas das bailarinas que o acompanham, a assistente pessoal e uma jornalista portuguesa que acabou de convidar para conhecer o local onde agora passa os dias, dedicado à tarefa de regravar digitalmente todas as músicas que lhe construíram o sucesso.
Quase aos 70 anos – faz a 23 de setembro – um dos cantores mais populares do mundo, o latino que mais discos vendeu em mais países, cerca de trezentos milhões, só agora se sente a trabalhar para a posteridade. «Quando oiço as canções em gravações de há quarenta anos… ah, tenho vergonha. Nada que ver com isto», diz, aumentando o som numa das centenas de alavancas da mesa de mistura. O equipamento ocupa a parede do fundo de uma sala vulgar – mas na cave da sua casa, com o teto baixo e boa acústica. «Tenho uma em cada casa… É extraordinário porque só com isto posso fazer tudo!» Parece uma criança a mexer nos botões, equilibrando a voz, os instrumentos… É visível o prazer. Diz que é isso que o faz continuar a cantar. Em palco – está agora a fazer mais uma digressão mundial que passará em Portugal no dia 16 de julho. E em estúdio: «Isto agora é a minha vida. É o que faço todos os dias. Aqui ou esteja onde estiver.»
Estas regravações digitais deram origem ao álbum duplo N.º 1, editado há dois anos, e, em breve, darão mais um disco em português. O trabalho que Julio Iglesias anda, por estes dias, a desenhar – folhas A4 com listas das suas canções em português estão espalhadas pelo estúdio – levou ao convite a uma jornalista lusófona para entrar naquele estúdio praticamente secreto. «O que achas da pronúncia?», pergunta, tocando as suas novas Abraça-me e Somos. A pronúncia é brasileira, como é a maior parte do seu público em português.
Esta entrevista exclusiva para Portugal foi feita no início da semana passada em Marbella, o quartel-general de Julio Iglesias quando está na Europa, um chalet na montanha, em Ojen, por cima da cidade do Sul de Espanha, a que se chega por uma estrada sinuosa. As suas outras moradas são em Punta Cana e Miami, onde está a mulher, Miranda, e os cinco filhos pequenos, que andam agora num colégio depois de terem estudado em casa com precetoras privadas. «Chegam amanhã», anuncia o cantor.
Tinha apenas uma condição: não haver fotografias. O cantor sempre defendeu a sua fama de romântico, deixando-se fotografar apenas de um lado; agora, com a idade, está ainda mais prudente. E, no entanto, isso não se aplica às palavras. Ele gosta de falar. A conversa corre, solta, numa simplicidade que tem tanto de profissionalismo como de charme natural. Em Julio Iglesias, ambos sempre andaram a par. Está de calças e blusa, pretas e informais, sentado no sofá fofo do seu «rincón favorito», como diriam as revistas da especialidade (e que raras vezes entraram nesta casa). O Mediterrâneo abre-se nas janelas da sala de estilo rústico no meio da floresta de sobreiros que ardeu quase toda no ano passado, no fogo que afetou parte da propriedade de XXX hectares. A entrevista não termina nos marcados trinta minutos, e continuará pelo jantar, um encontro entre o cantor e os seus homens de confiança no início da parte europeia desta tournée – os três diretores e o engenheiro de som, a produtora de estrada, a sua assessora principal e o corpo de bailarinas que anima os espetáculos.
Neste jantar, será Julio Iglesias o animador principal, escolhendo o vinho de uma lista que lhe é trazida da sua bodega – é uma paixão com vinte anos, também tem uma adega em cada casa -, fazendo perguntas simpáticas, sempre galanteando as mulheres à sua volta, e propondo brindes à equipa de diferentes origens – o diretor de sala é americano, a mulher é brasileira – e elogios à culinária do diretor de som de palco cingalês, que cozinhou a refeição.
A aura e o magnetismo não são mitos. Podem até sentir-se à mesa de um jantar. E, no caso deste homem, elegante aos 70 anos, parecem tanto causa como consequência da sua vida «maravilhosa», como não se cansa de dizer. De uma vida artística que começou por acaso, quando um acidente estúpido num Mini Morris com maus travões tirou a locomoção ao jovem guarda-redes de 19 anos, em ascensão no Real Madrid. Em dois anos, Iglesias voltou a andar e fizeram parte da sua recuperação os exercícios para as mãos com uma guitarra. Descobriu assim a sua vocação, escrevendo as primeiras músicas na cama do hospital. O resto da história é a que se sabe. O que o trouxe ao que é hoje, esgotando salas em busca das suas canções românticas e reconfortantes. Isso, garante, é o que o faz continuar. E a sua energia inata, que não consegue ocultar.
…..
_Gosto muito de Portugal. A minha filha mais velha nasceu em Portugal. O melhor amigo do meu pai era ginecologista em Lisboa. O meu pai era galego. E eu e a minha mulher alugamos uma casa em Cascais por dois ou três meses. Foi o ginecologista que a minha mulher escolheu [no dedo tem um penso que reajusta].
O que aconteceu?
Caí ali, subi a uma árvore, estava a arranjá-la. [Em português] Estou velho já, estou velho, meu amor, estou velho… Então você veio aqui saber de mim o quê? Eu tenho quase 70 anos, uma vida feita, algumas coisas por fazer… Que queres saber de mim que a tua mãe não contou, que o pai não contou.
Mais o pai…
O teu pai gostava de mim? Bom gosto tem o teu pai.
Sim, ouvíamos os seus discos no carro, quando eu era pequena, nas idas para o Algarve nas férias…
Conheço essa estrada para o Algarve. Conheço todo o Portugal, de olhos fechados vou da Galiza ao Algarve. Porto, Coimbra, Setúbal, Faro. E o Brasil. Não falo muito português, entendo tudo, falo um pouquinho.
Pode falar espanhol. Quase cinquenta anos a cantar, a dar entrevistas e a fazer concertos e não está cansado?
Não estou cansado. Primeiro porque sou um profissional. Depois porque o que faço é um privilégio. Ter contacto com o público da Finlândia à China. Poder ser português para os portugueses, daqui a dez dias ser chinês para os chineses, anteontem norueguês para os noruegueses. Tenho uma vida privilegiada. O meu dever natural é agradecer às pessoas, e a maneira de o fazer é não esconder-me. Não vou a festas, é verdade, não vou a prémios – não vou aos Grammys nem aos Óscares faz já 25 anos. Há 25 anos que não vou a nenhum lugar desse tipo. Mas as entrevistas são algo natural para mim. Primeiro porque gosto muito de falar. Depois porque conto muitas mentiras….
Isso dá-lhe prazer?
Isso dá-me o prazer de sentir-me jovem. Porque as pessoas que têm 70 anos se não falam mentiras não estão felizes. Mentirinhas. Porque o futuro é muito incerto, então se não dizes umas mentiras, umas coisas impossíveis que são quase mentiras, pois…
Mentiras ou sonhos?
Impossíveis. Tenho a idade certa para não pensar a longo prazo. E a mim sempre me agradou muito o longo prazo. Eu escapei ao meu latinismo, ao meu meridionalismo, quando tinha 25 anos já pensava a longo prazo. E, no universo dos mares, e percorri-os todos. E agora o que faço mais que nada – por isso dou entrevistas – é comprar tempo. E como é praticamente impossível comprá-lo, o que faço é ter sempre pressa. Não digo que não a muitas coisas que podia. Agora penso a curto prazo. Não posso dizer de repente o que vou fazer dentro de cinco anos.
Aquela guitarra no hospital, que lhe deram depois de ter ficado paralisado, foi mesmo o início de tudo? Nunca tinha dado pelo dom da sua voz? Nem no duche?
Eu não sou um cantor natural. A minha vocação é tardia. Eu não cantava. Era um bom desportista. Cantar, nada. Nem tinha ideia, nem sequer me interessava a música… Não era uma pessoa que seguia as músicas, que comprava discos. Não. Para mim a música era a do som do estádio, o do Real Madrid, onde jogava [como guarda-redes], e o da universidade. A guitarra, sim, mudou-me a vida. Porque eu não podia mexer as mãos, não podia mover os dedos, tinha uma paralisia desde a sétima dorsal, e então deram-me uma guitarra, como uma espécie de brincadeira, toma lá! E aí deu-se esta maluquice. Escrevi canções, La Vida Sigue Igual, Abrazame…. Depois dei-as a uma companhia de discos e eles perguntaram porque não as cantava eu. Disse: «Eu não sei cantar…» E não sabia. Depois a vida deu-me muitas oportunidades, deu-me muito tempo. Se fosse hoje a um concurso de voz, nem sequer me ouviam. Tinham-me mandado embora à primeira.
Porque diz isso?
O Bob Dylan também seria eliminado à primeira. E talvez o Presley. Porque cantar é como preencher umas palavras cruzadas que, de repente, não se preenchem. É interpretar, ser artista, chegar ao universo dos ouvidos das pessoas. É preciso preencher um milhão de palavras. Esse volume de coisas adquire-se com muita disciplina, muito tempo. Ou, quando és génio, que eu não sou, é tudo natural. Eu não tinha nada natural.
Mas o seu êxito foi fenomenal.
Mas descolou pouco a pouco. Primeiro em Espanha, um pouco em Portugal, depois Itália, Alemanha, mas o êxito universal dá-se 25 anos depois.
Tempo para aprender…
…tudo. Tornei-me profissional.
A cantar?
Não a cantar. A perceber o que é cantar. Cantar é uma coisa reflexa. Para mim era natural… Larara Manuela… [trauteia]. Cantar não é muito significativo, não tens de ser o primeiro da escola para ser diretor da companhia. Não tens de ser o que melhor cantas para ser o que mais interessas ao público. Eu cantei com a Amália Rodrigues muitíssimas vezes… Quantas vezes na minha vida… E quando sentia a voz profunda desta senhora maravilhosa – falo de Amália contigo porque é uma mulher portuguesa, para mim a mais importante cantora ligada a Portugal na história -, não somente era uma cantora, era uma «emocionadora», apaixonada. A voz saía-lhe desde os pés. Isso é o que é um artista.
Vencer a paralisia, aos 19 anos, foi a primeira vitória da sua vida?
A primeira não, foi a grande vitória. Sim, claro. Primeiro porque eu não o sabia o que significava ficar sem vida. Eu era um rapaz jovem, forte, saudável, desportista e, de repente, numa hora, fiquei morto. Mas morto total. De pesar 80 quilos a pesar 45 em três semanas. Um esqueleto, com as mãos assim… caídas. Foi uma vitória da disciplina. E antes disso da ciência. Quer dizer, primeiro salvaram-me a vida. E depois eu salvei-me.
Depois disso sentiu-se invencível?
Não é uma coisa que se consiga num dia e que se diga, oi, já ganhei. Hoje estou consciente do que se passou e do que fiz em todo esse caminho, mas não se sente num momento. Não. O que mais me recordo é que dois anos e meio, três anos depois deixei de andar de muletas. Isso sim, lembro-me, da liberdade de não ter de me apoiar nas muletas. Mas foi uma vitória de pouco a pouco, de dia a dia. Todos os dias tentava fazer mais sacrifícios, nadar mais… Acho que tinha a disciplina escondida em mim e descobri-a.
Era um menino mimado?
Não… Era mimado pelo desporto porque era um bom desportista, jogava numa equipa grande. Era um miúdo rápido, despachado, mas não era uma maravilha. Era um tipo normal, simpático e que gostava de desporto, de miúdas, da vida. Nunca me meti em drogas, nem álcool, nada, em absoluto. A primeira vez que provei álcool tinha 30 anos. Vinho, vinho, adoro vinho….
Tinha uma família de classe média-alta, o seu pai era médico ginecologista.
O meu pai era médico. Alto, forte, inteligente. A minha mãe era uma mãe típica, espanhola…
Ibérica.
Exatamente. Essas mães abnegadas, sofridas. E eu nasci no ano de 1943, em plena Guerra Mundial. Não havia nada em Espanha, um país que tinha perdido a sua consistência vital com a guerra civil não era um país atrativo nos primeiros dez anos da minha vida. Lembro-me bem de que tudo era racionado, que tinha de ir para as filas com a minha mãe. Mas isto não são queixas. Eu aprendi mais no não abundante do que no abundante. E se não tivesse aprendido não estaria a fazer esta entrevista. Teria tido uma vida normal.
Qual foi o momento em que soube que esta vida de cantar seria a sua vida?
No dia em que as pessoas começaram a reconhecer-me na rua. No dia em que senti os olhos das pessoas a olharem para mim de uma maneira diferente.
Era estranho?
Não, uma maravilha… Não o desejei mas foi uma coisa que aconteceu.
Quem queria ser futebolista…
…já tinha isso no instinto, sim… Sim, mas no futebol é muito mais partilhado. O êxito do artista é muito pessoal, muito individual. Diferente do futebol. Porque é uma carreira em que o esforço não é tão grande e a recompensa é imensa. Acho que se perguntarem a um político o que gostava de ser, diria sempre cantor. Nem sequer ator, um ator tem de trabalhar. Um cantor é uma maravilha, vais para o palco e cantas. E cantas para as pessoas. De cada vez que te encontras com trinta ou quarenta mil pessoas num concerto é uma energia que não se pode comparar com nenhuma energia. Eu gostava que as pessoas soubessem o que nos dão, a nós, artistas, para que nos exigissem que lhes déssemos a mesma energia. Acho que as pessoas não sabem que nós, os artistas, continuamos vivos por causa delas. Quando um artista passou duas, três gerações, se não tem o seu público, morre. Morre por dentro.
Aconteceu com muitos que deixaram de cantar. Não consigo, que continua a dar concertos todos os meses num lugar qualquer do mundo…
Não sei, não tenho essa coisa na minha vida. Terei sempre um pequeno cantinho em Portugal onde vou continuar a cantar. Um bar. Não tenho problema. Sempre vai haver um público para mim.
E se a voz lhe falta?
Se a voz me faltar terei a cabeça para continuar a viver. O problema é quando as pessoas não gostam de ti. Se a voz me faltar, o público vai continuar entendendo coisas.
Como aconteceu com o Sinatra…
Cantei com ele muitas vezes porque tínhamos o mesmo agente. Com 78, 79 anos cantava bonito. Perdeu um pouco a visão, estava também um bocadinho senil, nos últimos dois anos, tinha de ler as letras em palco. Lembro-me quando cantei com ele, ele entrou no palco e pediu para trocar de lugar comigo porque queria estar perto da mulher, já se sentia um pouco fraco. Mas para mim foi o maior campeão que conheci.
Quem são os ídolos do ídolo?
Não… Ídolo não sou… Gosto dos que cantam depois de mortos. Os que te continuam cantando. Por exemplo, estou no elevador de um hotel em Banguecoque e oiço Unforgettable… [Trauteia] é Nat King Cole a cantar. E arrepiam-se-me os pelos dos braços. Porque é emocionante. Gosto dos cantores de estilo. Se ouves Amália, e eu oiço muitas vezes, é inimitável. Lembro-me dela de quando cantámos juntos e fiquei com o sonzinho da sua voz no ouvido para sempre. Quando cantei com Sinatra, para sempre. Com Stevie Wonder, para sempre. Com Sting, para sempre. Com Diana Ross, para sempre. Com Willie Nelson, Placido, Bocelli… E quando cantas com estes artistas, estas vozes de estilo profundo, fica-te no cérebro. Totalmente. Eu recordo todos os duetos… e fiz uns cem na minha vida. E recordo todos!
Como foi cantar com a Amália?
Tenho uma história preciosa com Amália. Em Biarritz, no Casino. Estava ela sentada na primeira fila, e eu estava a cantar La Paloma e oiço uma voz que está a cantar comigo. E sei imediatamente que é Amália. E naturalmente ela estava a cantar. E estávamos a cantar os dois, ela estava a cantar comigo… E era uma coisa … Não me esqueço de um só segundo dessas coisas. Por isso quando me perguntas de que artistas gosto, digo: os que têm estas vozes únicas, que recordas toda a vida. E que não têm tempo, são intemporais. É uma lástima que as gravações não pudessem ser como são estas modernas. Por isso eu fiz um disco… Chama-se N.º 1, em que voltei a cantar todas as minhas canções. Quando dou uma entrevista para a rádio e põem essas canções em fundo, eu digo: «Que maravilha.» Porque agora soa bem. Quando punham as gravações antigas, de há quarenta anos, sentia uma vergonha…
Mas que vergonha? Isso é como o escritor que diz que o último livro é o melhor?
Não, não, não, não, não. O mundo digital abriu-nos a uns sons maravilhosos. A voz gravada num microfone mau não sai como é. Quando oiço La Vida Sigue Igual, ou Abrazame, ou Hey ou Me Olvidé de Vivir, de há quarenta anos… Ou quando oiço Carlos Gardel, o mais belo cantor da história… todo roufenho…
Como sabia que uma canção sua ia ter sucesso?
Não sabia. Nunca sabes. Não. Na realidade se queres que te diga a verdade, o sucesso o artista vê-o no reflexo do público. Imagino que o marchand diria a Picasso sobre a época Rosa, faz-me o favor de pintar assim porque as pessoas estão a comprar estes quadros. E ele diria: não. O pintor, o escritor, o escultor, sabem que gostam do que estão a fazer. Não sabem se as pessoas vão gostar. Pensam que sim, mas não sabem. Não há ninguém que possa dizer que fez uma canção que vai ter sucesso. Porque o autor tem de gostar de tudo o que escreve. Não se pode mostrar se não gostas do que escreveste. Eu quando escrevia canções às vezes o que eu gostava mais não era o que tinha mais êxito.
Por exemplo?
Hey.
Não viu logo que seria um sucesso?
Fernando Pessoa, de quem gosto muito, dizia que a sua loucura podia ser por vezes genial. Considerava a dele assim. Eu acho que nós, os escritores, temos idade. E há um momento em que já não estamos loucos. E que nos tornamos prudentes. E quando nos tornamos prudentes, temos uma vida mais organizada, temos mais responsabilidades…
Já não choramos por amor…
Nesses momentos é que escrevemos pior. Para escrever bem tem de se ser muito, muito, muito livre. E eu não sou livre, livre, livre, livre há 25 anos.
A fama tirou-lhe a liberdade?
Não, não. A fama é uma maravilha. A fama não tira nada.
Deixa de poder andar na rua…
Oh, que maravilha não te deixarem andar na rua. Imagina que me deixavam andar na rua? Seria um pobre desgraçado, perguntaria: «Porque é que ninguém me quer?» Nem uma só personalidade pública quer perder a sua popularidade. Jamais. Por um dia pode ser. Porque tem uma namorada, e é casado, e quer sair com ela. Mas nunca mais. Não há coisa mais atrativa que o êxito com o público? Não há maior casamento que o do artista com a sua gente.
A fama vicia?
Não é um vício mas é uma adição.
Qual é a diferença?
O vício é negativo e a adição não. Eu nunca tive nenhum vício mas sou adicto do palco. Porque é o único lugar onde me curo. O palco é para mim uma necessidade. Não ando bem, já não tenho tantas forças como antes, e o palco dá-me forças. Quando estou a cantar, o meu sangue começa a girar no meu corpo de uma maneira diferente. Quando subo ao palco a adrenalina sobe. E por isso controlo-a porque senão dá-me um ataque de coração. No palco, normalmente, não tenho idade. E fora do palco, sim, tenho-a,
Essa é uma questão que o preocupa muito? Está sempre a falar dela, da idade…
Porque me perguntam…
Eu não perguntei.
[Risos] Vou fazer 70 anos… Dizem-me «Como se sente aos 70 anos?» Pois sinto-me «de puta madre»! [Risos] Não me dói nada! Mentira!!! Com 70 anos dói-te o cotovelo, cais, as gripes duram mais vinte dias, vais mais ao médico, fazes mais análises de sangue. Se eu aos 70 anos não tivesse estas coisas seria fantástico. Eu tenho os 70 anos que tem toda a gente, mas o que acontece é que tenho uma disciplina férrea. Adoro comer. Comeria o mundo… E adoro vinho. E antes bebia três, quatro copos… Agora bebo um, e… Porque me sobe o açúcar, porque me baixa o açúcar, porque sobe o colesterol… [risos] Estas são as coisas que temos todos. Então respondo a maiores circunstâncias negativas com maior disciplina positiva. Porque à parte de tudo é uma responsabilidade. Se eu fosse gordo e não me cuidasse as pessoas diriam: é um abandonado… Eu cuido-me, na realidade mais para as pessoas do que para mim. Ando, nado. Como uma vez carne em cada 15 dias. Gosto de vinhos jovens, pois tomo velhos porque têm menos açúcar. A mí me encanta la vida. A mí me encanta vivir. A mí me encanta sentir [Gosto da vida. Gosto de viver. Gosto de sentir]. Se não fosse vitalista e se não sentisse, não seria o que sou. E se não fosse agradecido…
De que é mais agradecido?
Eu tive uma vida privilegiada. Filhos com êxito. Uma família maravilhosa. Uma mulher que amo profundamente. O amor da minha vida. Filhos pequeninos, o mais pequeno que se o conhecesses morrias, porque é um presente de Deus. Uma coisa de morrer. Não podia ser mais atento. É capaz de olhar para a mãe e olhar para mim quando temos uma pequena discussão e sente-o. E imediatamente pega na mão da mãe, pega na minha e já nos junta. Muitas vezes perguntam-me «E porque continuas a cantar?»…
E porque é?
Primeiro porque não sei fazer outra coisa. Que vou fazer? Negócios? Sim… Podia dedicar-me aos negócios, tenho uma série deles, é natural… Porque para mim cantar não é um negócio, é uma alegria. Mas neste momento estou a pensar em como vou vender todas as minhas empresas para deixar de ter todos os problemas e aborrecimentos e dedicar-me a cantar e a viver com os meus filhos.
Tem duas levas de filhos, uns com 40 anos, outros adolescentes e crianças…
Tive-os quando já não esperava. Para mim ter filhos quando tenho idade de ser avô – e já sou – é um mundo diferente. Os meus filhos mais velhos sabem que sou velho. Mas para o que tem 6 anos sou o mais jovem do mundo. No outro dia estava com o meu filho mais novo no escritório, a tratar de coisas, e de repente olhei para ele e ele estava com o seu iPad e as suas coisas e perguntei-lhe: «Guillermo porque gostas tanto de mim?» E ele disse: «Porque és meu pai.» E depois de dois ou três minutos chegou ao pé de mim e disse: «Se não fosses meu pai também gostava de ti.» E claro que chorei, logo… Com os meus filhos mais velhos é diferente, são independentes. Enrique é um campeão, Julio outro, Chabeli vive feliz na sua vida. E os pequenos, pois têm mais necessidade de mim. Os mais velhos são rapazes que viajam nos seus aviões privados…
Enrique é um discípulo?
Não. Enrique é autónomo. A única coisa que herdou de mim foi o amor pelas pessoas, a educação de ser generoso com as pessoas. É simpatiquíssimo. E isso sim, tem-no nos genes. Julio é igual. Chabi é mais reservada.
Porque nunca fizeram nada juntos?
Porque soa feio. Pai e filhos a cantar soa muito comercial. E depois seria interromper a carreira autónoma de Enrique. Ele é um rebelde com causa… [risos]. A causa dele.
Olha para as mulheres hoje como olhava há vinte, trinta anos, procura as mesmas coisas, olha com os mesmos olhos?
Quando uma pessoa tem a minha idade o interesse não muda, mas a necessidade muda. Toda a parte física perde força. Em graus superlativos. Mas a vontade de flirtar, o coquetear, não se perde. Mas depois a tua natureza, que é marcada pelos anos que passam, leva-te a outras convivências. A outros sentidos. Eu hoje não tenho nada que ver com aquele rapaz de 30 anos. Aos 30 anos eu amava… Era uma vida maravilhosa, porque a cabeça ia a par do meu corpo. Agora a cabeça vai a par da minha alma.
É melhor ou pior?
Aaahhh… Agora por exemplo tenho mais interesse nos outros. Antes tinha menos. Agora tenho interesse, por exemplo, no que custa às pessoas comprar um bilhete para os meus espetáculos, pergunto quanto custam, porquê. Há mais perguntas, porque sou muito menos egoísta. Quando era jovem o instinto era muito mais forte do que o intelecto. Porque o êxito veio tão de repente e era muito avassalador. Sempre tive uma boa cabeça, firme, nunca tive uma cabeça deformada. Sempre disciplinada, que podia juntar ao meu corpo. Em todos os sentidos. Agora tenho a cabeça possivelmente muito mais aberta do que antes e o corpo está mais adormecido… No entanto, a minha alma está vivíssima. A alma está desperta. Inquieta.
Isso de ficar velho é mais importante para alguém que foi um símbolo sexual?
Eu nunca fui um sex symbol.

_Repara que gostei tanto das mulheres… A mulher para mim foi companheira, professora, incentivou-me, fez-me estar melhor, preparar-me mais, olhar-me ao espelho da minha vida por dentro… Fez-me tentar seduzir. E isso de ser um sedutor já o tinha por dentro, que é uma coisa maravilhosa, porque ter a sedução cá dentro não é igual a tê-la só por fora. Então a mulher para mim foi o meu espelho. O respeito absoluto. O amor profundo. Porque se eu não gostasse da mulher desta forma não teria tido oito filhos. O «donjuanismo», o ser um sex symbol, não dá esta predisposição para ter filhos. Eu tenho oito. E uma das coisas mais bonitas que tenho na vida é ter visto a minha mulher a ter os filhos. E estar com eles.
As mulheres já têm um lugar importante na sua vida antes de ser cantor?
Sim. Sempre. O meu pai também gostava muito de mulheres. É genético. Vivi toda a vida rodeado de mulheres e não quero deixar de viver. Porque com elas aprendo. Não com essa ideia que as pessoas têm de tantas mulheres que tive… Isso é um conto chinês. Com números…
Mas pelo menos tinha quantas queria…
Mentira.
Não acredito.
Vou explicar. Quando és um artista, pop, rock, e vais para o palco, os olhos juntam-se. Com tanta gente. E se os olhos se juntam com tanta gente e tens 24, 25, 26 anos, a atração é profunda, forte e sólida. Evidentemente juntam-se os corpos, como se juntam os olhos. Mas isso não é só comigo é com todos os artistas. Se são homossexuais, se são heterossexuais. O artista atrai esse olhar e ao mesmo tempo procura-o.
A fama não faz desconfiar? Não há uma parte que fica sempre com dúvidas?
O que queres perguntar-me é se sabes se gostam de ti pelo que és ou… Na realidade és o que és. Não podes pensar que gostam de ti porque representas algo. Se me perguntares quantas pessoas viveram ao meu lado mais pelo que represento do que pelo que sou… Pois com certeza muitas. Mas não dou tanta importância porque essas pessoas não ficaram comigo e eu não fiquei com elas.
É possível ter amigos verdadeiros na fama?
Sim, claro. É possível ter tudo na fama. Amigos, inimigos, amores. A fama… Não sei o que é para ti a fama. A fama para mim é o reconhecimento. O reconhecimento é a exposição de algo que fazes e que é público. Mas o reconhecimento não tem de ser público. Há famílias, centenas de milhões, que têm o reconhecimento íntimo. E desfrutam. É comparável, emocionalmente. Eles desfrutam do seu sucesso íntimo como eu desfruto do público. É exatamente igual.
A forma como expõe a necessidade desse reconhecimento é muito sincera.
Todos os que te digam o contrário estão a mentir. Tu quando fizeres este artigo, vais gostar que os teus amigos digam «gostei da entrevista» ou «que porcaria de entrevista»… É isso.
Por que nunca escreveu uma biografia?
Porque se o fizesse ia ficar zangado com muitos amigos e pessoas queridas porque tinha de escrever a verdade. E como seria a minha verdade, com todos os meus defeitos e de todos os outros, seria uma biografia não positiva. Porque tenho muitas coisas para contar.
Por isso mesmo!
Não, mas não.O que quero fazer, e será nos seis meses do ano que vem, é viajar com dois bons escritores, um latino e outro anglo-saxónico, e que depois dos concertos jantem comigo e que tomem um bom copo de vinho e que assinem um documento em que fique escrito que eu posso corrigir o que escreverem. Para ter uma história para contar com música. Para fazer uma história musical. Isso sim, sou capaz de fazer. Sem misturar política, nada… Vocês os portugueses consideram-se latinos? Não…
Somos mais portugueses. Somos Portugal, Angola, Brasil, Moçambique… Esse é o nosso mundo.
Eu conheço o teu mundo tanto como tu, ainda que não acredites.
Claro que acredito. Muito mais.
Soltas-me em Moçambique ou Angola… Adoro… Vou cantar a Angola dentro de um mês e meio. Já cantei lá várias vezes. Amo. E o Brasil… Bom, o Brasil é a minha terra. Deixa-me que te explique um pouquinho o Brasil. É tanto o amor que tenho por esse grandíssimo país que já fiz mais de vinte discos em português. Que aprendi português a cantar, o que é dificilíssimo. Estou justamente agora a regravar umas músicas em português para o Brasil. Para fazer um novo disco.
Depois de tudo isto qual é o seu legado à música?
Não há legado. Um legado é algo que pertence aos génios. Aos que inventam. Aos que fazem que a sociedade progrida. Nós, os cantores populares, não temos mais legados do que uma música, que lo mejor que era lo mejor se va. Não tenho um legado que vá alterar a sociedade em nenhum sentido. Sou um entertainer. Passei a vida a cantar e a entreter as pessoas e a fazê-las o mais felizes possível. A comunicar com elas, a dar energia e a receber a delas. O legado que tenho são estas canções que escrevi que ficam por aí ou não… Mas não mudei nada. O que mudou fui eu que a pouco e pouco me tornei artista, nada mais.
E, no final, como explica o seu enorme sucesso?
Em primeiro lugar, um êxito tão universal não tem muita lógica. Porque senão toda a gente o atingia. Acho que há um som na voz do artista que não tem idade. É um som que as pessoas escutam e reconhecem logo. E com esse som chega-se ao tímpano de quem nos ouve e acredita em nós e no que estamos a contar e o sente. Não tem explicação. Isto é o êxito. É um estilo misturado com as palavras certas e bem ditas e que respondem à cena que está a acontecer que é a canção que estás a cantar.
O seu êxito foi global, até na China.
Canto na China há quarenta anos. Estive muito tempo em Hong Kong porque lá vivia a minha mulher [Isabel Preysler] e os pais dela viviam nas Filipinas. Para mim a Ásia sempre foi muito atraente. Acabámos de chegar de lá e vamos voltar em outubro.
É o seu melhor mercado?
Não sei… É um mercado fascinante. Chegar às ruas de um pequeno povoado – e na China um pequeno povoado tem quatro milhões de habitantes – e a reação do público é emocionante. A música chinesa faz-se com sons dissonantes e a nossa faz-se com sons consonantes. Fazer uma música consonante numa genética assonante foi um mundo de rutura… Quando lá fui das primeiras vezes fizeram-me um teste na TV para ver se era válido para cantar em direto. E disseram-me que sim, cantei num programa em direto que era visto por quatrocentos milhões de pessoas, e foi assim.
As pessoas reconhecem-no na rua?
Sim, dizem Fulio, Fulio, Fulio. Mas é uma maravilha. Chegas ao aeroporto de Xangai e dão-te um beijo. Agora imagina que eu saía à rua e ninguém olhava para mim. Seria uma angústia de solidão mortal.
O futebol foi importante na sua vida – e continua a ser fanático do Real Madrid. Como viu a saída de Mourinho, ficou triste?
Não porque ele quer ir-se embora. Falo muito de Mourinho. É um grande profissional. Um dos maiores treinadores de sempre. Mas tem uma coisa no seu coração que é maravilhosa, mas que vai contra a sua profissão. A emoção. Ao ser tão emocional de vez em quando transporta a emoção para a sua profissão. E tenho a certeza de que quando chega a casa pensa «estou arrependido disto», daquilo que disse.
E Ronaldo?
_É bestial. Tem tudo. É um tipo bonito, é um tipo forte, desportista, profissional. Tem todos os atrativos de um campeão, porque Deus também o premiou com o look. Ou seja, é muito difícil jogar futebol como joga e ter uma cara como tem porque isso provoca muita inveja… É indispensável para Madrid. Lembro-me de que há uns cinco anos, estava no Algarve e a mãe dele disse-me «esteja descansado que ele já assinou pelo Madrid». Simpática.
Quem já jogou futebol continua a ver o futebol de outra forma, avaliando mais… sobretudo os guarda-redes?
Sim, também o vejo como profissional no sentido que valorizo os jogadores de uma forma técnica. Mas continuo a gostar dos golos de forma igual… Quando Madrid ganha, mesmo que seja uma jogada irregular, festejo. Não me importa.
Vive entre Punta Cana, Miami – onde os seus filhos estão na escola – e Marbella, o seu quartel-general em Espanha. Como é regressar a Espanha?
Nunca regresso a Espanha porque nunca saí de Espanha. A minha cabeça está aqui, o meu sentimento está aqui. O meu caráter, os meus pais, os meus avós. Sai de Espanha quem sai aos 3 anos, não aos 35.
Porquê Miami?
Porque eu tinha razão. Miami é o mundo. Tem o sol o mar, e hoje um mundo atrativíssimo de todas as gerações, origens. Tornou-se a cidade mais cosmopolita, mundana.
Fez mais por Espanha do que Espanha por si?
Nós, os latinos, somos maus promotores das nossas coisas. Os franceses já começam a fazê-lo melhor, os italianos, melhor, portugueses e espanhóis são muito maus. Não sabem vender vinho do Porto nem os vinhos de Ribera del Duero… E somos muito críticos connosco próprios fora. Em vez de falarmos bem dos nossos países falamos mal… Somos maus promotores.
Nunca escondeu que era espanhol.
Levo Espanha comigo na minha alma a qualquer continente que vá. E quando entro em palco toda a gente sabe que sou espanhol. A marca Espanha nunca a promovi de forma formal mas está na minha alma. Espanha deu-me a vida, o sangue, o caráter, o espirito… E eu exportei-a. O que aconteceu é que passei a sentir-me do país onde estava no palco. As nossas obrigações são de comunicar com as pessoas que nos vão ver. E quando eu canto não perco a minha nacionalidade mas converto-me em chinês durante duas horas, nem que seja para agradecer a essas pessoas que nos vão ver por duas horas. E isso digo-o muitas vezes em palco. Se me fores ver em Portugal pois «eu sou português aí» [em português].
O que vai cantar em Portugal?
Os cantores cantam o que as pessoas querem. As canções clássicas, que cantam há quarenta anos.
 
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Julio Iglesias se apresenta pela primeira vez em Uberlândia
26 de Novembro de 2014
Por: Adreana Oliveira, Correio de Uberlândia
Um grande artista não se faz somente pelo que vende, se faz pelo público que conquista e pela longevidade de 46 anos de carreira como o cantor espanhol Julio Iglesias. Ele começou sua turnê brasileira em setembro e segue com ela até dezembro. Poucos são os artistas de primeiro porte que fazem um giro tão amplo em solo brasileiro. Ao todo são 19 shows. E nesta quarta-feira (26), a partir das 22h, no Center Convention, os uberlandenses poderão conferir o show da turnê “1”.
Julio estava, literalmente, na estrada, a caminho da cidade, quando respondeu à entrevista por e-mail ao CORREIO de Uberlândia. Simpático, disse que será um prazer cantar para os uberlandenses.
Aos 71 anos, com 60 álbuns lançados em uma carreira que começou no hospital, Julio Iglesias é, segundo o “Guinness Book”, o artista latino que mais vende discos, ultrapassou a barreira dos 300 milhões. Porém, mais do que cifras, ele gosta de privilegiar o público. “A música mudou a minha vida e nunca poderei agradecer o suficiente aos meus fãs”, afirma o artista, que já se apresentou na cidade nos anos 90.
Entrevista
Tantas décadas dedicadas à música ainda existem novidades. Imagina a expectativa dos fãs de Uberlândia para recebê-lo? Essa questão de sempre conhecer lugares novos é um dos motivos que o fez escolher a carreira de cantor?
Estou feliz de cantar em Uberlândia. Descobrir novas cidades em um país tão querido como o Brasil é um privilégio. Nesses 46 anos de carreira, os brasileiros têm sido muito generosos comigo ao me darem a oportunidade de cantar no Brasil de norte a sul e isso eu agradeço de coração. A carreira de cantor começou, para mim, pelas circunstâncias da vida. Depois de um acidente de trânsito que tive aos 20 anos de idade, no hospital, durante o período de recuperação, comecei a tocar violão e a compor as primeiras canções. Minha vida mudou por completo, graças à música.
Não me lembro de um artista como você ter feito uma turnê tão longa em solo brasileiro. É um público especial para você?
Sim, essa turnê pelo Brasil é enorme. Começamos em setembro e terminaremos em dezembro. Eu adoro os brasileiros. Me encanta cantar para eles, porque vivem a música intensa e profundamente. Logo que subo ao palco, percebo uma conexão especial com o público, sinto a vibração deles.
Como é saber que – dentro do mercado formal, sem contar a pirataria que assombra a indústria fonográfica – com seus discos, você está dentro da casa e, provavelmente, do coração de 300 milhões de pessoas?
Mais da metade desses 300 milhões de discos que vendi deve ter sido comprada pelo meu pai, que era meu fã número um (risos). É um privilégio quando te dizem que você é o artista latino mais vendido na história, mas a vida me ensinou que as cifras, no final das contas, não são tão importantes. O que importa de verdade é o sentimento, a paixão, querer sentir-se querido. Eu devo esses 46 anos de carreira a meu público, ao amor deles. Nunca poderei agradecê-los o suficiente.
“1” marca sua despedida das grandes turnês, mas li, em uma entrevista recente, que a música jamais deixará de fazer parte da sua vida. Vi algo como “vou cantar até o dia em que morrer” ou algo assim. Nessa longa estrada, tem algo, dentro do meio musical, que você ainda gostaria de realizar?
A música é minha vida. Espero que a vida siga sendo generosa comigo e me permita cantar até o final. Organizar turnês muito longas, como a deste ano pelo Brasil, não é fácil, por isso, é pouco provável que voltemos a montar uma turnê igual. Não quero dizer que não voltarei ao Brasil para shows pontuais. É sempre bom ter metas novas, porque isso te mantém alerta, vivo. Para mim, minhas metas são ter saúde e seguir cantando.
Sei que cada canção é como um filho. Certa vez, um artista nosso muito querido, saudoso Renato Russo, disse, referindo-se à música “Giz”, que era a que lhe dava mais orgulho de ter escrito. Quanto a Julio Iglesias, existe uma canção sua que considere especial?
E difícil escolher, porque cada música tem sua história e te traz lembranças de pessoas especiais que conheceu. Porém a canção-chave da minha vida é, sem dúvida, “La vida sigue igual”. Com ela, ganhei o Festival de Benidorm, em 1968, ali começou tudo.
Para terminar, quando estiver viajando menos, tem planos de escrever uma autobiografia ou produzir um documentário com sua história?
Prefiro viver a vida a contá-la!
Muito obrigada e seja bem-vindo a Uberlândia, tenho certeza que será um momento histórico para a cultura da cidade.
Muito obrigado. Será um prazer cantar para os uberlandenses.
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